quinta-feira, agosto 18, 2011

Ripples

Directamente da rua, do espasmo instantaneo que me faz percorrer vielas e sítios por onde nunca passei, uma incidência perde-se na vontade (ou falta dela): Para onde ir? Esquerda ou direita? Fresca ou natural? Fruta ou chocolate? fumar ou não? Com ou sem camisinha? Ir ou ficar?
A dificuldade não está forçosamente na escolha, de longe, qualquer idiota consegue fazer uma escolha... a dificuldade estará porventura (inevitavelmente) em viver com a ligeireza com que a escolha se faz, a dificuldade está em ver além da escolha, e em conseguir viver consigo próprio após fazer uma escolha. Uma escolha é como uma pedra que se atira a um charco, é viver com as ondas que a pedra faz ao cair no charco e que vêm inevitavelmente molhar-nos os pés nas margens... Uma escolha, por péssima que seja, deve ser feita à distância segura das implicações inerentes, à distância segura, matura e ponderada das ondas que a escolha provoca, dos efeitos colaterais, das repercursões. Por qualquer motivo, qui ça divino, esta é uma ferramenta estritamente inata, aprende-se, não nasce connosco, e muitas pessoas passam anos das suas vidas com os pés molhados por causa das más escolhas que fizeram. Uma vida inteira com pés molhados, imagine-se...
As ondas que as escolhas provocam não são isentas ou inconsequentes. Tal como as escolhas não devem ser influênciadas, as ondas não podem ser teleguiadas, pelo contrário, são descontroladas, quase perpétuas, por vezes irremediavelmente irreversiveis. Fazer uma escolha, mais do que optar pelo que se faz, é abdicar do que não se escolhe em detrimento de outra coisa qualquer, profunda ou leviana, fruto de um plano ou de um impulso, frugal desejo carnal ou abnegação amical, um momento rafeiro, qual cicatriz na alma, idelével tatuagem esborratada na memória, inexplicavel decisão, marco na experiência que se queria enriquecida, na vida, na vida, na vida, na nossa vida, preciosa, mas frágil e débil, desorientada... Mal aconselhada... Coitada...
Fazer uma escolha, considere-se uma escolha de vida, mesmo que seja baseada numa leitura de cartas de tarôt - pasme-se que eu fui testemunha - é seguramente uma expressão de livre-arbitrium, respeita-se, com inferência, com deferência, ou com a mais pura e desprezante indiferênça... e aceita-se. Mas a escolha, a nossa escolha, mais do que fazer de nós o que somos, faz de nós o que somos aos olhos do mundo, e por mais que nós nos vejamos a nós próprios assim ou assado pela escolha que fizémos, seremos sempre - inevitavelmente - julgados pelas escolhas que fazemos, tal como passamos a vida a julgar os outros pelas suas escolhas... Nunca me soou bem aquela coisa de atirar a primeira pedra, ninguém é isento, ninguém é ilustre ou santificado. A individualidade é um mero lugar-comum que submetemos, forçados por vezes, a apreciações alheias, tendenciosas... A dificuldade, não está só no fazer uma escolha, não estará sequer apenas no ter que viver com essa escolha (porque não lhe podemos escapar), a dificuldade está sobretudo sem dúvida em fazer a escolha certa!
Houvesse ao menos frontalidade para assumir as más escolhas que se faz, maturidade para reverter as escolhas erradas, contenção na auto-desculpabilização, moderação na obtusidade e na teimosia, mas lá está, é inato, ou se tem ou não se tem, ou se escolhe ter, ou escolhe-se não ter, e vive-se com isso, nessa ilusão, de só parecer sem nunca chegar a ser, até se morrer...
...e ficava aqui a noite toda a deambular, mas por agora escolho ir dormir.
-Bem haja a tua escolha, seja lá ela qual que for, pois és tu que terás que viver com ela, e eu eventualmente arranjarei maneira de secar os meu pés molhados.
Tudo se paga.

8 passageiros clandestinos:

Blogger Piloto Automatico chamou a hospedeira e disse:

...e tudo se perdoa!

1:28 da tarde  
Blogger XS chamou a hospedeira e disse:

Bem dito! E já ias levar sarrafada pela última frase, mas redimiste-te com o comentário. Zen, F., zen!
Bjs
XS

8:05 da tarde  
Blogger Smootha chamou a hospedeira e disse:

Escolhas, boas ou más, todos as temos.
Importa lembrar que as escolhas feitas no presente, não só nos molham os pés no futuro, mas são feitas de acordo com a bagagem do (nosso) passado.
Isto significa que hoje és o que(m) escolheste ser, a cada nova encruzilhada que encontraste, e a escolha seguinte modificará o que(m) serás de hoje em diante.
Mas não é tudo...

As escolhas de terceiros também nos "obrigam" a molhar os pés...
Resta-te enxugar "as barbatanas", sacudir a última gotinha e avançar em direcção ao próximo charco.
E sim, perdoa.
Mas não esqueças: aprende.

Beijo daqueles

3:42 da manhã  
Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

|Comentário dos meus? Ripples é com dois P ;)|

Gozamos com os cães por andarem às voltas sobre si atrás da cauda e acabamos por ter o mesmo comportamento.
Queres que a tua vida mude? Sê tu a mudança!
As escolhas foram feitas por terceiros? Dá graças ao Pai por te ter "livrado do mal", como nós Lho pedimos em oração.

Paco, nada acontece por acaso, tudo nos ajuda a talhar o Ser. Então, simplesmente SÊ!
Deixa-te de lamúrias e luta. Luta pela tua vida, pelo teu futuro e deixa de culpar os outros pelas escolhas que fazem, faz tu as tuas. Escolhe ser Feliz! And stick with it man! Contra ventos e marés, entre ti e tu próprio! Afinal és tu quem vai viver contigo até ao fim!

Or you could love*

Ana, cuja cama não estava morna, pois já tinha esfriado há um ano.
Ana, que nunca se subterfugiou em nicks ou alter-"echoes" para aqui comentar.
Ana, tão simplesmente a perdoada que perdoou.
Ana, a que perdoou e foi perdoada.

Ana, a tua amiga.

1:04 da tarde  
Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

Um amigo querido disse-me em tempos : " a vida é feita de escolhas ou de ...falta de "

Hit the road ...e chegas lá, afinal , sempre chegamos onde nos esperam, certo?

Um beijo

Paula directamente de Chaves
( secret joke )

5:24 da tarde  
Anonymous Renato chamou a hospedeira e disse:

É preciso coragem só para escolher e isso ninguém te tira. Coragem is your middle name my friend.
"segura nos óculos", dizias tu antes da porrada e eu com 7,8 ou 9 aninhos, enquanto segurava nos óculos, pensava sempre, quem me dera ter esta coragem. É claro que ao mesmo tempo pensava, o gajo que segura nos óculos nunca apanha nos cornos. E aí, com muito medo, segurava nos óculos com toda a força.
Mais do que estas lamechices, deixa-me dizer uma coisa, escreves mesmo bem quando andas a sofrer, mas ver-te em sofrimento não é coisa boa, por isso, podes contar comigo, dá cá os óculos que eu guardo-os enquanto continuas a lutar.
Forte abraço.
R.

11:55 da tarde  
Anonymous Anónimo chamou a hospedeira e disse:

Não posso deixar de comentar este blogue porque gosto de ler coisas assim, com total visão periférica da vida e com coragem para a enfrentrar sem receio das escolhas. Vai em frente Piloto.

7:56 da tarde  
Blogger Piloto Automatico chamou a hospedeira e disse:

XS: Não sou muito disso de sarrafadas... enfim, tem vezes. Bjs e obrigado
F (o do cafézinho prometido)

Smootha: Muito interessante a ligação entre o moldar do que se foi para o que se será via as escolhas que se faz. Sempre um prisma fresco que me trazes. Beijo enorme.
F

Ana: (Wow, comentário dos teus indeed, e para me corrigir a escrita, no less!)
Tu sabes que as pessoas mudam, mudam constantemente consoante se adaptam a novas realidades e têm coragem para sair das suas zonas de conforto. Aprecio o teu comentário e sei que o fizeste com enorme esforço de isenção. Prevalece a maturidade e a amizade. Beijos aos 3.
F (o que vive e deixa viver)

PS: Do meu lado a cama esteve sempre morninha, sou de sangue quente ;-)

Paula: Como vai a tua nova vida de Mrs? Os marillion têm uma música chamada "Happiness is the Road" e numa passagem diz: "all you have is what's happening to you right now". Bjs
F

RePato: Acho que já tinhas uns bons 12, 13 ou 14 aninhos nessa altura... Obrigado pelo comentário (saudades de te ler). Curti bué o almoço em Picoas com o pessoal, a ver se volto a participar nos nossos jantares mensais, afinal fui um dos fundadores e há 2 anos que não ponho lá os pés.
Tenho uns óculos novos, estes não se metem em coboiadas, mas a coragem está toda cá! Grande abraço
Paco

Anónimo: Visão periférica é assim como um sexto sentido, ou se tem ou não se tem. Quanto a enfrentar a vida, é a coisa mais fácil do mundo, é ir em frente. Obrigado pello comentário.
F

12:47 da tarde  

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